Por Sergio Schuler – Vice-presidente do negócio de Ruminantes da DSM e presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável
Esse é um espaço no qual vamos discutir juntos sobre a pecuária sustentável sob todos os aspectos, desde as questões que atualmente mais têm chamado a atenção do ponto de vista ambiental e gestão responsável dos recursos naturais, passando pelos impactos sociais e pela viabilidade econômica dos modelos de produção de carne e leite que queremos para o futuro.
Ao refletir sobre a pecuária, especialmente no Brasil, onde temos realidades heterogêneas, atuamos em um setor em constante transformação, que vem se adaptando frente aos vários desafios que surgem em nosso percurso, mas que evolui em uma linha constante ao longo dos anos. Nesse contexto, a sustentabilidade deve ocupar uma boa parte da pauta do segmento para melhorarmos a eficiência, a produtividade e deixarmos um bom negócio para as próximas gerações.
A perenidade da produção de proteína animal nutritiva e de alta qualidade para alimentar as pessoas do Brasil e do mundo é um tema que merece atenção. Apesar de polêmicas em torno da sustentabilidade, os produtores precisarão se adaptar para produzir mais, mas utilizando os recursos disponíveis.
Nesse contexto e sob o ponto de vista econômico da sustentabilidade, o caminho lógico passa por investimentos em tecnologias que ajudam a impulsionar os índices produtivos e financeiros da atividade.
Isso envolve desde os avanços em termos de nutrição, genética, sanidade e manejo, incluindo aqui os avanços da digitalização do setor, que fornece uma nova perspectiva de produção integrada apoiada em dados em todas as etapas produtivas, com olhar inovador da porteira para dentro e para fora, em fazendas de todos os portes e níveis de tecnificação, desde aquelas propriedades que operam com muita precisão até aquelas que ainda têm um caminho a percorrer (e é preciso começar!).
Hoje em dia, graças ao avanço e a inovação tecnológica que o mundo tem passado, o produtor encontra mais facilidade em acessar, por um baixo custo, ferramentas e softwares de qualidade para tornar a sua fazenda mais produtiva e rentável, possibilitando enquadrar todo o seu manejo no que se convencionou chamar de pecuária 4.0, assunto que será recorrente em próximas edições desta coluna.
Essa nova perspectiva de produção pecuária engloba a adoção de tecnologias que podem trazer diversos benefícios para o produtor, como a diminuição de erros no controle de manejo e produção, uma vez que a utilização de softwares ajuda na identificação de falhas deste tipo; aumento na produtividade, pois os processos produtivos e de monitoramento ganham mais eficiência; e, obviamente, maior lucratividade, já que todo o trabalho é automatizado com a utilização de tecnologias específicas para a propriedade, fazendo com que o produtor tenha mais tempo para se dedicar no que realmente importa.
Seja pequeno, médio ou grande, os pecuaristas têm hoje à disposição os conhecimentos que podem ajudá-los a acessar dados e informações para tornar sua propriedade mais produtiva, à medida que também a torna mais sustentável.
E a grande maioria dos produtores já está muito atenta a isso. Segundo levantamento da empresa Inteligência no Agro (INA), os pecuaristas são os mais interessados no investimento de tecnologias que ajudam ampliar a produtividade. Como consequência a esse fato, a adoção de mais tecnologias contribuirá para uma maior sustentabilidade em toda a cadeia produtiva.
Temos muitas pautas para discutir na pecuária sustentável
Mas o acesso às tecnologias para tornar mais produtiva a atividade não serão os únicos pontos a serem tratados aqui nesse espaço ao longo das nossas próximas conversas. São várias as questões que têm entrado nas muitas preocupações dos produtores e do próprio setor, considerando toda a cadeia produtiva, do pasto ao prato.
A rastreabilidade é um dos temas que pretendo trazer para o debate, pois há uma pressão grande por parte de grandes redes varejistas e players de alguns dos nossos principais clientes internacionais para identificar onde e sob quais condições os animais são produzidos.
Com um status de exigência dos clientes e consumidores da nossa carne, essa questão chega para a mesa de negociação com um viés de que o produtor brasileiro tem de se adaptar e passar a considerar isso. Porém, o processo em si é complexo e há muitas possibilidades que envolvem a decisão de partir para uma rastreabilidade individual ou por rebanho, por exemplo.
Da parte climática, há desafios e pautas também em torno de favorecer uma produção pecuária de baixa emissão. E há também diversos caminhos possíveis para evoluir nesse sentido. É um debate amplo e também passa por outros temas importantes, como o uso e a recuperação do solo, o bem-estar animal e até a comunicação no mercado internacional dos impactos e benefícios de nosso sistema produtivo.
Em geral, a produção brasileira é, sim, sustentável e fornece ao mundo uma carne produzida por animais que consomem pastagens em um ambiente com reservas ambientais que tornam o sistema carbono eficiente. Temos de melhorar a forma como contamos essa história para o mundo, que atualmente é prejudicada por uma narrativa parcial que induz uma série de mitos que não condizem com a realidade da pecuária brasileira.
Em outras palavras, a sustentabilidade não é mais apenas um conceito, mas o caminho lógico para a pecuária do futuro. No fim das contas, aquele produtor que adota tais métodos para cuidar da sua fazenda e dos seus animais não apenas contribui com a continuidade do setor e do planeta, como também promove alimento saudável para as pessoas de nosso planeta todos os dias.
Fonte: Portal DBO