O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), divulgado no último dia 09/08, traz um perigoso alerta: a temperatura da Terra está subindo mais rápido do que se esperava e parte dos impactos causados pelas mudanças climáticas pode ser irreversível.
As estimativas apresentadas apontam que a marca de 1,5°C de aumento da temperatura, limite mais ambicioso do Acordo de Paris, seja ultrapassada por volta de 2030, 10 anos antes do previsto. Tudo isso impulsionado basicamente pelas emissões de gases causadores do efeito estufa da atividade humana.
Todas as regiões do planeta poderão sofrer mudanças do clima nesse período, incluindo ondas recordes de calor, secas, tempestades mais intensas, inundações e outros eventos climáticos extremos que afetam diretamente o meio ambiente, a saúde humana e a agricultura.
O estudo deixa claro que a única maneira de retardar ou até mesmo reverter o aquecimento é reduzir drasticamente e imediatamente as emissões. Na suposição de que se faça absolutamente tudo que está ao alcance da humanidade, a temperatura global, após ter subido 1,5°C, ainda será 1,4°C superior à da era pré-industrial até 2100.
Diante de tudo que foi exposto, fica evidente que o Brasil será um dos países que mais sofrerá com a crise climática. E as razões não são apenas ambientais, mas também econômicas já que estas mudanças podem inviabilizar diversas atividades agropecuárias.
Neste sentido, a pecuária brasileira vem tentando fazer a sua parte. Recentemente o GTPS – Mesa Brasileira de Pecuária Sustentável – lançou seu Compromisso Público no qual todos os associados à entidade assumem o compromisso com o desenvolvimento sustentável da pecuária, por meio da articulação de cadeia, da disseminação da informação e apoio à melhoria contínua, buscando o equilíbrio entre os pilares econômico, social e ambiental.
O documento destaca a importância de o poder público reforçar a fiscalização e o combate ao desmatamento ilegal e pôr em prática medidas de regularização ambiental e fundiárias, mais especificamente o Código Florestal.
Luiza Bruscato, gerente executiva do GTPS, ressalta que a conservação ambiental está diretamente relacionada às boas práticas agropecuárias e cita algumas inciativas discutidas no Grupo que estão em linha com a construção desta agenda positiva, como a Rastreabilidade, a implementação do Pagamento por Serviços Ambientais – PSA e a Emissão de Gases de Efeito Estufa. “Estes são alguns temas recorrentes do nosso dia a dia, tratamos todos em nossos grupos de trabalho, o objetivo é introduzir estas ferramentas e mostrar que no Brasil é possível produzir carne com manutenção da biodiversidade e consequentemente promover a sustentabilidade da pecuária”.
No âmbito internacional, a Mesa Redonda Global da Carne Bovina Sustentável (Global Roundtable for Sustainable Beef – GRSB), anunciou seus compromissos para desenvolver e aperfeiçoar a sustentabilidade da cadeia de valor mundial da carne bovina. As metas estão relacionadas com i) clima: reduzir o impacto no aquecimento global em 30%; ii) uso da terra: garantir que a cadeia contribua de forma positiva com a conservação da natureza; e iii) saúde e bem-estar animal: proporcionar ao rebanho um ambiente propício, saudável e de qualidade para o desenvolvimento, construído a partir da adoção de melhores práticas.
Além deste vasto comprometimento setorial, diversas empresas assumiram seus próprios compromissos, não apenas os frigoríficos, mas todos os representantes da cadeia produtiva, como produtores, insumos e serviços, varejo e restaurantes, sociedade civil e instituições financeiras.
O Ministério da Agricultura também afirma que vem trabalhando intensivamente nas questões de mitigação de gases de efeito estufa no setor agropecuário, sobretudo por meio do ABC+ Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+ 2020-2030). Em nota, o MAPA pontua que “o setor agropecuário é um dos mais vulneráveis à mudança do clima. Cenários de aumento de seca, chuvas mais intensas, aumentos ou diminuição de temperatura podem levar a perdas de produção e comprometer diretamente a segurança alimentar nacional e global, gerando prejuízos socioeconômicos incalculáveis”.