Agrônomo recém-formado, iniciei na atividade pecuária em 1990. Sou grato aos meus mestres da Esalq que me ensinaram que produção e preservação ambiental devem caminhar juntas, como está no hino da escola: “plantar, criar e conservar, a Esalq existe pra ensinar”. Hoje integro a segunda geração do Grupo APB Agro, empresa familiar fundada há 43 anos por meu pai, Anselmo Paulo Bellodi, que trabalha com pecuária de corte e cana-de-açúcar.
Durante as últimas três décadas, liderei em nosso grupo a discussão do tema ambiental. Este ano passamos a pertencer ao Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), por sugestão do amigo e líder do Agro, Roberto Rodrigues e por nos identificarmos com as pautas do GTPS. O Grupo APB estabeleceu como objetivo na área de sustentabilidade a redução da emissão líquida de CO2 equivalente.
Os bovinos possuem um estômago com quatro compartimentos, sendo um deles o rúmen, que tem uma população de microrganismos que digerem por meio de processo fermentativo, alimentos como a pastagem, ricos em celulose. O gás metano é um subproduto desta digestão ruminal e é eliminado pelos animais através do arroto (metano entérico).
Para compensar a emissão atmosférica de 1 kg de metano é necessária a remoção de 28 kg de CO2. Para reduzir nossa emissão líquida de CO2, temos que atuar na redução da produção de metano entérico e ao mesmo tempo no aumento do sequestro de CO2 atmosférico.
Nosso sistema de produção consiste na recria em pastos adubados e na terminação em confinamento. Para reduzir a emissão de metano entérico, estamos trabalhando o uso de aditivos (ionóforos e outros) e melhorando a qualidade dos alimentos volumosos e concentrados, a pasto e em confinamento, visando a melhoria da conversão alimentar e do ganho de carcaça.
Outro ponto importante é a redução do ciclo de produção. Na década de 1990 os animais abatidos em confinamento tinham 40 meses e peso de 17 arrobas. Hoje a idade de abate foi reduzida para 24 meses e o peso aumentado para 21 arrobas. Os dados da pesquisa apontam que quanto menor o ciclo de produção, menor a emissão de CO2 equivalente por quilo de carcaça produzida.
Para aumentar o sequestro de CO2 através da fotossíntese das forrageiras e do aumento do teor de matéria orgânica no solo, temos melhorado nossa eficiência de adubação e manejo de pastagens, o que tem permitido uma lotação no verão em áreas de cerrado acima de 2 UA/ha (unidades animais por hectare). Na década de 1990 a lotação de verão era de 0,8 UA/ha.
Nesse bioma, o Código Florestal determina que as áreas de Reserva Legal mais as Áreas de Preservação Permanente (APP) correspondam a 20% da área total da fazenda, conferindo à propriedade uma área permanente de sequestro de CO2. Em 2023 iniciaremos a Integração Lavoura Pecuária (ILP) com a produção de silagem de grão de milho úmido sob pivô central. Sabidamente a ILP é uma prática fundamental no sequestro de CO2, seja pela fotossíntese das culturas, seja pela produção de raiz e de palha que estocam carbono no solo. Também no próximo ano, faremos uma estimativa da quantidade de CO2 equivalente produzida, da quantidade sequestrada e do saldo líquido.
Aprendemos que sem meta não há gestão e sem indicadores não há como estabelecer uma meta. Vamos continuar envidando esforços através da utilização das tecnologias disponíveis para reduzir a emissão líquida de CO2 equivalente. Nas palavras de Peter Drucker, “a melhor forma de prever o futuro é cria-lo!
Mauricio Bellodi é pecuarista no Grupo APB Agro, empresa associada ao GTPS.
Artigo publicado originalmente na edição 188 da revista Feed&Food.