Lucas Guarraldo*
Representantes da agricultura familiar participaram do Dia de campo em recuperação e manejo de pastagens para agricultores familiares no nordeste paraense, que apresentou técnicas de recuperação e manejo de pastagens para 45 agricultores de 12 municípios do nordeste paraense. A iniciativa foi realizada em Paragominas e Irituia, com visitas a áreas de pastagem e sistemas agroflorestais, além de apresentações sobre o gerenciamento eficiente do pasto. O objetivo foi fornecer subsídios para a geração de renda e promover uma pecuária mais sustentável no Pará.
“Essa ação tem como objetivo promover a troca de experiências entre agricultores e agricultoras familiares que atuam com pecuária. A agricultura familiar no Pará possui um rebanho expressivo de bovinos e, do ponto de vista social, é uma atividade de grande importância na região. No entanto, enfrenta desafios como a degradação das pastagens e as mudanças climáticas. Entendemos que a melhoria das pastagens é um caminho viável para agregar valor e tornar a produção mais sustentável e justa”, destaca Graciela Froehlich, pesquisadora do IPAM e uma das organizadoras do evento.
A formação foi promovida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com a Seaf (Secretaria de Estado de Agricultura Familiar do Pará), Fetragri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), Ivisam (Instituto Vida em Sintropia da Amazônia) e Fetraf (Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar), com apoio do ICS (Instituto Clima e Sociedade).
Técnicas de manejo
Durante o treinamento, foram apresentadas estratégias como a rotação de pastagens, essencial para garantir alimento de qualidade ao gado. A técnica consiste em subdividir o pasto em pequenas áreas, conduzindo o rebanho para diferentes piquetes a cada quatro dias, seguindo um cronograma que garante produtividade mesmo em áreas reduzidas. O manejo adequado assegura o tempo necessário para a rebrota do capim, aumentando seu valor nutricional e evitando a abertura de novas áreas de pastagem, ao mesmo tempo em que favorece o crescimento saudável do rebanho.
Os agricultores também compartilharam soluções para manter a saúde financeira das propriedades. Um exemplo é o uso de cercas elétricas, alternativa mais acessível em regiões onde o quilômetro da cerca convencional pode ultrapassar R$ 20 mil, segundo os participantes. A gestão do campo também se torna mais eficiente com o plantio de árvores nativas, que podem servir de suporte para as cercas, além da integração de agroflorestas às pastagens, estratégia que gera renda extra e proporciona sombra para o gado.
“Eu venho da agricultura familiar e ver que hoje um produtor pequeno consegue, com uma estrutura simples, fazer a rotação de pasto e ter um ótimo resultado na produção, me impressionou. Com pouco investimento, consigo aplicar tudo isso na minha propriedade e enxergar até onde podemos chegar. Trabalho com pecuária há 10 anos e já estava pensando em desistir, porque minha pastagem sempre estava ruim. Agora, com o que aprendi aqui, consigo me organizar e não vou mais vender minha terra”, relata Francisca Roseane Silva da Fonseca, agricultora familiar e presidenta do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santa Maria do Pará, uma das participantes do curso.
Qualidade de vida e sustentabilidade
Os participantes puderam conhecer na prática as técnicas discutidas, conversando com agricultores que já as aplicam, como Vicente Cirino, fundador do Ivisam. Ele implementou um sistema integrado de agrofloresta e pecuária em sua propriedade, onde também ministra cursos e oficinas de capacitação voltadas à agricultura familiar.
“Esse trabalho é importante porque fornece o conhecimento necessário para que o cidadão do campo não precise vender seu lote e ir para a cidade enfrentar dificuldades. A gente trabalha com a ideia de que é possível ter uma vida digna, feliz e confortável no campo, produzindo muito em pouco espaço, respeitando a natureza e sem abrir grandes áreas que acabam ficando subutilizadas”, afirma Cirino.
O Pará abriga hoje um rebanho de mais de 24 milhões de animais. A crescente demanda por pastagens, muitas vezes utilizadas com baixa eficiência, tem impulsionado o desmatamento no estado, que lidera os rankings nacionais de derrubadas e queimadas. Segundo dados da Seaf, cerca de 11 milhões de cabeças de gado estão em áreas com algum tipo de irregularidade ambiental.
Nesse cenário, investir na sustentabilidade da agricultura familiar é fundamental, especialmente considerando que 60% dos pecuaristas do Pará pertencem a esse segmento. Com assistência técnica e investimentos em capacitação, esses produtores têm potencial para adotar práticas mais sustentáveis, aumentar sua renda e alcançar mercados mais valorizados.
Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*
Fonte: IPAM