Em um mundo cada vez mais orientado para a tecnologia, a pecuária também se encontra em um momento de revolução. Como fundador da Databoi, pioneira no desenvolvimento de algoritmos de biometria bovina, tenho observado e participado ativamente dessas transformações. Neste artigo, busco apresentar a perspectiva de que a biometria bovina é uma poderosa ferramenta para o monitoramento e rastreabilidade de rebanhos que combina precisão, bem-estar animal e sustentabilidade.
Mas afinal, o que é a biometria bovina?
Por meio de uma simples foto do espelho nasal do bovino, é possível criar uma identidade única para esse animal, como um CPF. Isso se deve ao fato de que o espelho nasal de um bovino é único para cada animal, similarmente a como nossas impressões digitais são para nós. Essa tecnologia está alinhada à tendência atual de utilização de algoritmos de reconhecimento facial humano em larga escala, como vemos em aplicativos bancários e aeroportos. Além disso, a foto pode capturar metadados de coordenadas geográficas, possibilitando o conhecimento da trajetória do bovino e informações sobre a qualidade ambiental da região na qual a foto foi tirada.
No contexto das recentes regulamentações aprovadas pelo Parlamento Europeu, a biometria bovina adquire ainda mais relevância. A nova norma vai proibir na Europa a venda de produtos oriundos de desmatamento em florestas, abrangendo qualquer cultura que utilize local onde houve desmatamento ilegal, incluindo gado. Portanto, será exigido do Brasil rastreabilidade completa da sua produção pecuária.
Somado a isso, a rastreabilidade na cadeia da pecuária é mais do que uma simples exigência operacional. Tornou-se uma demanda do consumidor. Há uma crescente consciência e preocupação entre os consumidores, internos e internacionais, sobre a origem dos produtos que consomem, impulsionando o desejo de garantir que esses produtos não estejam vinculados a práticas ilegais ou ao desmatamento.
Contrastando com métodos convencionais como brincos, tags e tatuagens, a biometria tem uma enorme vantagem: ela é baseada em atributos essenciais ao animal, que não podem ser alterados ou perdidos. O espelho nasal de um bovino é único para cada animal, assim, uma foto é o suficiente para capturar todas as informações necessárias para o reconhecimento do indivíduo, criando uma maneira não invasiva e indolor de identificação.
Nesse sentido, a biometria bovina aparece como alternativa para aumentar a transparência e fortalecer a confiança do consumidor utilizando tecnologia de ponta. Ela pode ajudar a provar a procedência ética e sustentável dos produtos, melhorando a imagem da cadeia da pecuária e, consequentemente, beneficiando os produtores e a economia como um todo.
Acredito que, para capitalizar plenamente o potencial dessa nova tecnologia, devemos incentivar seu desenvolvimento. Com uma maior massa de dados, podemos torná-la mais acessível e padronizada em toda a cadeia da pecuária, proporcionando benefícios para todos os envolvidos.
Como toda tecnologia inovadora, os primeiros passos podem parecer lentos e difíceis. No entanto, tenho convicção de que, uma vez implementada em larga escala, o valor gerado será imensurável. Do bem-estar animal à transparência para o consumidor, passando pela otimização das operações dos produtores, a biometria bovina tem o potencial para ser uma verdadeira força transformadora na cadeia da pecuária.