No início dos anos 2000, o tema rastreabilidade bovina estava em destaque em nosso país. O SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Bubalinos) foi criado pelo governo federal e junto a ele uma série de regulamentações que estipulavam a adesão obrigatória de todo o rebanho nacional nos anos subsequentes. O projeto não evoluiu e sua adesão se tornou voluntária. O objetivo principal à época era melhorar o controle sanitário e aumentar nossa participação em mercados mais exigentes como o europeu por exemplo. Duas décadas se passaram e até hoje, apenas uma pequeníssima fração do rebanho nacional é rastreado integralmente, ainda em função da exigência específica do mercado europeu como a Cota Hilton, por exemplo. O tema, no entanto, nunca saiu da pauta do MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) e nos últimos anos voltou a ganhar força com o apoio das principais associações ligadas a produção e a indústria de carnes e derivados.
Somos a maior pecuária comercial do mundo e nossos desafios são tão grandes quanto nossa pecuária, mas é possível encará-los como já faz a moderna e tecnológica agricultura comercial brasileira. A tecnologia também evoluiu na pecuária e hoje em dia, equipamentos como balanças e brincos eletrônicos, bastões de leitura, cercas elétricas com monitoramento 24/7 e aplicadores de medicamento de fluxo contínuo, são muito mais acessíveis do que há vinte anos. Outro ponto é que o processo de evolução não para por aí, pois aqueles que voluntariamente aderem a um protocolo de rastreabilidade, também tendem a investir em melhorias nos pastos, nos currais e principalmente no treinamento e desenvolvimento de mão de obra. Empresas como a Datamars tem o objetivo de entregar ao mercado soluções inovadoras, sustentáveis e tecnológicas para proporcionar uma diferença mensurável na vida dos pecuaristas.
Sabemos que a implementação dos protocolos de rastreabilidade gera consigo a necessidade de investimentos por parte dos pecuaristas e esses investimentos podem variar de acordo com a estrutura de controle já existente nas propriedades, ao mesmo tempo que também sabemos que a grande maioria das propriedades brasileiras ainda carecem do mínimo de estrutura. No entanto, é importante que façamos uma reflexão ampla sobre o impacto da rastreabilidade em nossa pecuária, que pode ser uma alavanca para um salto de produtividade. O controle individual dos animais nos leva a uma produção massiva de dados que podem ser utilizados como indicadores. Quando analisamos dados de ganho de peso, por exemplo, juntamente com informações de raça, origem, diferentes manejos e controles sanitários, podemos comparar as diferenças de desempenho ligadas aos aspectos citados, abrindo caminhos muito mais assertivos para o pecuarista. Trata-se de um ciclo virtuoso de otimização de recursos e incremento de produtividade.
A pressão do mercado internacional sempre foi uma das bases mais importantes para essa discussão, mas é preciso ter em mente que também é crescente a fatia do mercado interno que deseja saber mais sobre a carne que está consumindo. Contudo, a chave para esta virada está na mão dos pecuaristas, empresários rurais que estão se modernizando e buscando, cada vez mais, tecnologias que os ajudem a gerir, planejar e executar com mais assertividade aquilo que produzem. Estamos na era da Pecuária de Precisão e das fazendas inteligentes, onde já é possível monitorar e medir todos os indicadores comportamentais e de desempenho do animal de forma individual, desde a seleção genética até o abate, de forma que a rastreabilidade pode e deve ser o começo deste caminho sem volta para o desenvolvimento da pecuária brasileira.