Atualmente, existe um destaque para o enfrentamento das mudanças climáticas que tem sido grande foco de atuação e comunicação de organizações, mas as iniciativas em curso são realmente praticadas ou servem apenas para atrair espectadores? Ainda tem empresa fazendo o tal do greenwashing?
O greenwashing, ou ‘maquiagem verde’, indica o uso de técnicas de marketing e relações públicas por organizações que desejam promover uma imagem enganosa de apoio ao meio ambiente. A prática possui formas variadas que vão desde declarações sem quaisquer provas de sua veracidade à camuflagem de dados, comunicação imprecisa e falsas rotulagens.
Preocupada com o tema, recentemente a União Europeia introduziu regras com o objetivo de tornar mais rigoroso o controle para a divulgação de um produto sustentável, uma vez que trilhões de euros são investidos em fundos divulgados como ‘fundos verdes’. Isso obrigará as empresas a colocarem em prática a sustentabilidade com muito mais seriedade, sob o risco de perder investimentos.
“Focamos na sustentabilidade não porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e fiduciários para nossos clientes.” Essa fala Lary Fink da BlackRock, maior empresa de gestão de assets no mundo, demonstra que risco climático é risco de investimento e que a performance ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) é uma oportunidade de melhorar portfólios.
O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) apresentou diversas ferramentas de mensuração dos resultados da adoção de atitudes sustentáveis que geram benefícios ao empreendimento. A ferramenta Trucost, adquirida pela S&P Dow Jones Índices em 2016, avalia ameaças relacionadas a mudanças climáticas, restrições de recursos naturais e fatores ambientais, sociais e governamentais mais amplos, identificando a necessidade de investimento nessas questões para evitar maiores riscos aos negócios.
No contexto da sustentabilidade na pecuária, as instituições com as quais possuo relacionamento por meio do GTPS, a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, de fato, entendem a relevância do tema, se dedicam a buscar soluções e estão dispostas a fazer alterações em seus sistemas produtivos para reduzirem seus impactos negativos.
Frequentemente, em nossos grupos de trabalho, existe a dedicação voluntária de colaboradores de diferentes áreas das organizações associadas participando de reuniões, discutindo, coordenando e trazendo pontos relevantes para solucionar problemas complexos com os quais a cadeia produtiva tem lidado.
É impossível, então, dizer que essas companhias não se importam. Afinal, custa tempo e, consequentemente, dinheiro participar ativamente desse tipo de atividade, conduzir uma mesa redonda e tomar decisões de governança que não vão gerar resultados financeiros diretamente para o empreendimento no qual atuam.
A alteração da dinâmica dos sistemas produtivos visando o ESG pode não estar acontecendo na velocidade que quem olha de fora gostaria e talvez não esteja sendo realizada de forma abrupta e disruptiva como se espera. Mas uma coisa é certa: não há mais espaço para greenwashing. É mais sensato fazer o que se propõe, garantir os benefícios de se investir na sustentabilidade e evitar piores impactos.
Luiza Bruscato é engenheira ambiental e atua como gerente executiva do GTPS, a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável.
Artigo publicado originalmente na edição 179 da Revista Feed&Food.