Aproximadamente 25% da superfície da Terra e 19% do território brasileiro são cobertos por campos nativos e pastagens plantadas. A demanda internacional por proteína animal segue, com destaque para o Brasil, responsável por 23,50% das exportações mundiais e com um rebanhos de 200 milhões de animais. Aumentar a produção e, ao mesmo tempo, mitigar o impacto ambiental de 70% das pastagens nacionais que apresentam algum estágio de degradação configuram o desafio atual.
Adicionando mais uma variável a essa equação, aproximadamente 40% do rebanho nacional ocupa áreas da Amazônia Legal, conforme estimativas do World Economic Forum. Portanto, é crucial compreender as causas da degradação das pastagens para evitar a repetição dos ciclos de degradação anteriores.
O sistema convencional da pecuária extensiva, ou a pasto, é um “sistema simples” desenvolvido seguindo os princípios da Revolução Industrial/Revolução Verde. Isso inclui a racionalização da produção por meio de métodos de padronização e repetição, resultando em ganhos de escala e redução de custos. Esses princípios foram eficazes em multiplicar a produção global de alimentos, criar empregos e promover avanços científicos.
Nessa perspectiva, a domesticação da produção de alimentos refere-se à capacidade humana de adaptar plantas e animais selvagens a comportamentos desejados por meio de pacotes de tratos culturais baseados em abordagens químicas (por exemplo, adubos NPK e defensivos agrícolas) e mecânicas (por exemplo, revolvimento do solo), intensificando as mudanças climáticas. As Conferências do Clima da ONU, consideram Nature-Based Solution (NBS) como uma alternativas para viabilizar a produção de alimentos.
Nesse sentido, a pecuária regenerativa é um novo campo de conhecimento que carece de linhas de financiamento e de maior espaço acadêmico. Por se tratar de um “sistema complexo”, o manejo regenerativo foi desenvolvida com base nos conceitos de sinergia nos ciclos da Natureza. Diante da escalada dos extremos climáticos, para que o sistema seja considerado sustentável, é necessário aprender a potencializar os ciclos das naturais, aumentar a biodiversidade, a resiliência e a autorregulação dos ecossistemas, fortalecendo assim os serviços ambientais.
A pecuária regenerativa recorre a uma mistura de práticas de acordo com as particularidades regionais, representadas pela agroecologia, agroflorestal ou ILPF, e plano de pastoreio e/ou pastoreio Voisin, além das práticas orgânicas, biodinâmicas, holísticas, sinérgicas, e da permacultura. Essa combinação proporciona um adequado manejo dos animais que revitaliza a capacidade produtiva do solo, regenera as pastagens (em oposição à degradar) e o ecossistema ao seu entorno.
Embora as pastagens sejam classificadas como uma cultura perene, de acordo com a Emater, a degradação começa três anos (em média) após seu plantio e/ou reforma devido ao manejo inadequado dos animais. Nesse contexto, chama a atenção para o Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono do governo brasileiro destinar uma fatia significativa de recursos para a reforma de pastagens, mas não dispões de garantias para que a pastagem da manutenção de sua vitalidade.
De fato, em alguns casos, a reforma de pastagem é necessária, pois a degradação resulta na perda de vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural da vegetação forrageira. Independentemente de qual for a alternativa do sistema de pecuária sustentável escolhido afim de superar a atual dinâmica, novas salvaguardas são necessárias para o Plano ABC, conforme descrito a seguir:
- Diagnóstico eficiente da origem da degradação em cada fazenda a ser financiada;
- Adoção, pelo pecuarista, de um plano de manejo sustentável e o estabelecimento de metas prévias à liberação do recurso;
- Liberação do financiamento;
- Avaliação e classificação do nível de sustentabilidade na produção utilizando tecnologia já disponível, como o sensoriamento remoto através de imagens de satélite ou por meio de drones (Embrapa);
- Visitas periódicas de técnicos “in loco”, que podem ser solicitadas através da extensão rural já existente em todos estados.
Dessa forma, a pecuária brasileira poderá ser praticada de forma mais racional, evitando a repetição de degradação cíclica, e utilizando o manejo dos animais como ferramenta da pecuária sustentável no enfrentamento das mudanças climáticas.
*Leonardo Resende, produtor rural na Fazenda Triqueda e professor e pesquisador da ESCAS/ Instituto IPÊ
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