A sustentabilidade da pecuária representa mais do que uma iniciativa pontual para Ana Doralina Alves Menezes, 44 anos, executiva da ABA – Associação Brasileira de Angus. A entidade, que celebra meio século de vida no ano que vem, integra o quadro de associados do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS).
Médica veterinária e gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, ela atua em iniciativas sustentáveis há anos, devido sua origem no campo. Filha de produtores rurais no pampa gaúcho, tem dois filhos: Florencia, de 10 anos e Martin, com 3 anos.
É na companhia deles que ela adora viajar, conhecer novos lugares, pessoas, culturas e, como boa brasileira que é, aprecia um delicioso churrasco, amigos reunidos em volta do fogo, carne saborosa, música, diversão e muitas risadas. Praticar corrida de rua também é um de seus hobbies.
“Minha família toda é ligada à pecuária, eu sou filha de produtor rural, meu pai é zootecnista, formado na primeira turma de zootecnia do Brasil, meu avô era produtor rural, assim como meu bisavô e meu tataravô. Sou a quinta geração da família trabalhando com pecuária, que é algo que eu tenho muito orgulho”, lembra Ana Doralina, que sempre teve certeza de que a pecuária era o setor em que trabalharia.
Médica veterinária, graduada em Bagé, interior do Rio Grande do Sul, seguiu para a Nova Zelândia na busca por mais conhecimento e experiência. Quando retornou ao Brasil, iniciou as atividades profissionais já no Programa Carne Angus Certificada, atuando em um frigorífico. Ali, Ana executou sua primeira desossa, que acabou não dando muito certo.
“A partir desse pedido, resolvi mergulhar em numa jornada dentro do frigorífico para aprender ainda mais sobre a indústria. Sempre fui uma veterinária mais de produção, voltada para zootecnia e melhoramento genético. Depois de alguns anos, quando saí desse grande mergulho, o Programa Carne Angus Certificada havia crescido bastante, com mais unidades no Rio Grande do Sul e iniciando trabalhos nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Hoje, tenho 18 anos de Associação Brasileira de Angus e 18 anos de carne Angus, o que me enche de orgulho”.
Participação da Mulher
Ana destaca a crescente participação da mulher na pecuária. “Quando me formei, via poucas mulheres trabalhando na linha de frente, tocando fazendas como produtoras rurais, antes ajudavam o marido ou os pais. O que a gente vê hoje é o quanto isso evoluiu, ou seja, a mulher encabeçando o negócio, tocando as coisas para frente. Elas são extremamente competentes, articuladas, engajadas, comunicativas e abertas a novas tecnologias. A mulher assumiu seu papel! comemora.
Modernização
“A entrada da mulher é um dos sinais de evolução do agronegócio e da própria pecuária. Essas habilidades, mais do que nunca, se fazem necessárias. A mulher traz um olhar mais amplo para o negócio e torna isso aplicável. Não é mais aquela visão de que ‘meu pai fazia assim, meu avô fazia assim, eu não vou mudar’. Posso dar continuidade no que eles faziam, buscando conhecimento, tecnologias e se adequando a essa pecuária moderna”, aponta Ana.
Principal desafio
Entre os papéis estratégicos da mulher, Ana cita a gestão, que classifica como o principal desafio da pecuária. “A pecuária moderna exige habilidade, conhecimento, articulação e gestão. Precisamos conhecer a fundo o que produzimos, os nossos custos, operações e riscos, ninguém aqui consegue trabalhar sem fazer conta, sem ter os números na ponta do lápis. É necessário conhecimento para chegarmos nos nossos objetivos. A pecuária se desenvolveu, produzimos mais, evoluímos geneticamente, em resposta a esse sistema moderno e desafiador”.
Sustentabilidade
“Tudo está na base da comunicação”, destaca Ana. Segundo ela, no setor pecuário, de produtor para produtor, fica clara a necessidade de maior proximidade e de uma agenda em comum. “Sabemos que somos sustentáveis, que a maioria dos produtores do País se preocupa e garante isso, pela própria sobrevivência. Se nós não formos sustentáveis, não sobrevivemos dentro do negócio. O que nos falta é comunicar isso de uma forma mais clara, uma linguagem mais fácil e direta. Só assim teremos um maior engajamento para que a comunicação externa seja extremamente forte e objetiva. Muitas vezes permitimos que outros setores ou porta-vozes de fora comuniquem-se por nós, na maioria das vezes denegrindo nossa imagem e nós ficamos na retranca, só respondendo”, esclarece.
Iniciativas Sustentáveis
Ana Doralina explica que se empenha a projetos ligados à sustentabilidade da porteira para dentro, a fim de conquistar resultados também do lado de fora. “Como parte do Programa Carne Angus Certificada temos um selo de sustentabilidade. Nesta inciativa, as propriedades são auditadas, atendendo a um rigoroso protocolo que foi desenvolvido para a ABA, baseando-se na sustentabilidade: social, ambiental, econômica, bem-estar e sanidade animal, biossegurança e rastreabilidade. Ou seja, uma série de práticas, justamente com o intuito de comunicar externamente, de uma forma alinhada, organizada, comprovada e transparente, que sim, existem iniciativas dos produtores que se preocupam em levar essa informação gerada dentro da fazenda para o consumidor.”
Segundo Ana, este projeto foi inspirado em iniciativas internacionais e já colhe frutos. “O projeto se baseia em um checklist desenvolvido juntamente com uma empresa alemã, que também audita o programa, em todas as unidades que produzem a carne Angus certificada. As propriedades interessadas no selo sustentabilidade devem passar por uma auditoria, que nos ajuda a desenvolver a melhoria contínua de todas as etapas do processo..
Dia perfeito para Ana
Para finalizarmos nosso material, pedimos para Ana a definição de um dia perfeito.
“No campo, na fazenda, com a família reunida, com meus pais, com quem aprendi muito, meus filhos, que tento ensinar a importância das coisas simples, o amor aos animais, algo essencial e que precisamos demonstrar todos os dias. Um cavalo encilhado para sair a campo, assim são os dias que realmente me fazem muito feliz. Esses dias me trazem uma felicidade enorme, olhar o gado, as ovelhas, sentir cheiro de chão, solo molhado, os animais e o homem, de forma bastante integrada, e a família, que é a base de tudo, agradeço a Deus sempre”, finaliza.