Garantir o bem-estar animal e adotar práticas de manejo racional são estratégias fundamentais para a eficiência da pecuária brasileira. Com impactos diretos na produtividade, na qualidade da carne e na rentabilidade dos pecuaristas, esses conceitos se consolidam cada vez mais como pilares essenciais para o setor.
A crescente demanda do mercado por produtos provenientes de sistemas sustentáveis e a evolução nas regulamentações impulsionam essa transformação. Hoje, consumidores e importadores valorizam práticas que respeitam os Cinco Domínios do bem-estar animal: nutrição, ambiente, saúde, comportamento e estado mental.
Para a médica veterinária e produtora rural Ana Doralina Menezes, presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS), “garantir boas condições para os animais não é apenas uma questão ética, mas também uma estratégia que impacta diretamente a produtividade e a eficiência da atividade”.
Impactos na produtividade e na qualidade da carne
O manejo adequado reduz o estresse e os riscos de lesões nos animais, proporcionando melhor ganho de peso, menor taxa de mortalidade e otimizando o retorno econômico da atividade.
Além disso, a saúde animal também está diretamente ligada à saúde pública. “Animais bem manejados têm menor necessidade de tratamentos veterinários, o que contribui para a redução do uso de antibióticos e, consequentemente, para a prevenção da resistência antimicrobiana – um tema de crescente preocupação global”, explica Ana Doralina.
Entre os principais impactos negativos do uso de práticas inadequadas estão a alteração do pH da carne, que afeta cor, maciez, e a durabilidade do produto. Com a redução da maciez a carne pode se tornar mais rígida e menos atrativa ao consumidor.
Por outro lado, um manejo racional e cuidadoso evita esses problemas, garantindo um produto de melhor qualidade e maior valor de mercado.
Os avanços e os desafios

A pecuária brasileira tem avançado na adoção de boas práticas, impulsionada pela maior conscientização dos produtores e pelas exigências do mercado. Atualmente, observa-se o uso de sistemas de monitoramento do bem-estar animal, a adoção de currais eficientes e a redução da marcação a fogo.
“A rastreabilidade da carne bovina se tornou um tema central, pois garante maior transparência ao consumidor e fortalece a competitividade do setor nos mercados mais exigentes”, destaca a presidente da MBPS. O uso de anestésicos em procedimentos dolorosos também tem se tornado uma tendência crescente.
A tecnologia também tem papel fundamental na melhoria do bem-estar animal e da eficiência produtiva. Sensores e dispositivos inteligentes monitoram a saúde e o comportamento dos bovinos em tempo real, enquanto sistemas de rastreamento com drones e câmeras auxiliam no manejo e na preservação das pastagens.
Além disso, plataformas digitais e inteligência artificial permitem uma gestão mais precisa da propriedade, otimizando os recursos e reduzindo desperdícios. A combinação de manejo racional e inovação tecnológica garante uma pecuária mais eficiente, produtiva e alinhada às exigências do mercado global.
Porém, desafios ainda existem, especialmente em regiões com menor infraestrutura e acesso à tecnologia. Uma das principais iniciativas que apoiam os pecuarista neste sentido é o “Valorizar para Transformar”, desenvolvido pela Produzindo Certo e Aliança da Terra, com apoio financeiro do Bezos Earth Fund.
O projeto leva assistência técnica socioambiental para pecuaristas do Pará, promovendo a adoção de boas práticas e aumentando a eficiência produtiva.
O estado possui a quarta maior área de pastagens e o segundo maior rebanho bovino do país, mas, apesar dessa relevância para a pecuária nacional, a atividade ainda é predominantemente extensiva e de baixa produtividade.
“Entre os principais desafios para a adoção de boas práticas de bem-estar animal no Pará – e em diversas regiões do país – estão a necessidade de ampliar a assistência técnica contínua, a adaptação gradual de manejos tradicionais para modelos mais modernos e a ampliação do acesso a tecnologias que otimizem a produção”, disse Ana Doralina que também destacou outras iniciativas importantes no estado como o Sirflor (Sistema de restauração florestal) e o SRBIPA (Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará).
Guia de bem-estar animal
Para auxiliar pecuaristas e técnicos de campo, a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável lançou recentemente o “Guia de Recomendações sobre Como Melhorar o Bem-Estar dos Bovinos no Brasil“, fruto da parceria com a BE.Animal, empresa referência no desenvolvimento de estratégias para o bem-estar na bovinocultura.
“Com o objetivo de oferecer orientações práticas e acessíveis a produtores rurais, técnicos de campo e demais elos da cadeia de valor da pecuária brasileira, a iniciativa servirá como uma cartilha de referência, fornecendo diretrizes para a implementação de boas práticas de manejo e beneficiando toda a cadeia produtiva”, afirma Ana Doralina.
O guia é dividido em três capítulos e aborda temas como o monitoramento da saúde dos animais, o manejo na desmama, a aplicação correta de vacinas e medicamentos, e boas práticas no transporte e confinamento.
A iniciativa também destaca tendências globais, como a redução do uso de antibióticos e o avanço de métodos menos invasivos para identificação dos animais.
Para a presidente da MBPS, investir em bem-estar animal não é um custo, mas um diferencial estratégico. “Pequenas mudanças no manejo reduzem o estresse dos animais, melhoram o ganho de peso, aumentam a qualidade da carne e até mesmo a taxa de prenhez”, destaca.
A produção pecuária caminha para um modelo mais eficiente, sustentável e competitivo. Os produtores que adotam essas práticas garantem não apenas um retorno econômico maior, mas também um posicionamento estratégico frente às tendências do mercado.
Fonte: Produzindo Certo