Num passeio pela nossa história milenar, vemos que a agropecuária surge apenas no período Neolítico, Era compreendida entre 8000 e 5000 anos a.C., nesse cenário nasce a agricultura na famosa Mesopotâmia. A partir desse momento, a sociedade percebe o quanto é dependente da natureza, dos seus ciclos naturais e das condicionantes ambientais para sua sobrevivência.
Como possuidor de imensas áreas agricultáveis e detentor do maior rebanho bovino comercial, o Brasil se apresenta como a “Nova Mesopotâmia”. Um lugar dotado de terras férteis, climas propícios aos mais variados cultivos e pecuárias e uma natureza que garante “a viabilidade da produção de alimentos”, no aspecto mais amplo desse termo.
No entanto, percebemos que nossa bovinocultura de corte tem sofrido pressão por parte de distintos setores para que atue de forma mais sustentável e transparente. A partir disso, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas a produção pecuária até o ano 2030. Para tal, as indústrias têm se engajado na redução de suas emissões. Seguindo a mesma tendência, muitos pecuaristas vêm fazendo a transição para práticas de pecuária sustentável e adesão à programas e iniciativas governamentais e privadas que visam torná-los mais eficientes e conformes ambientalmente.
Como qualquer nação experimentando o desenvolvimento, herdamos fardos históricos que desaguam em oportunidades dispares à sociedade. Indo a fundo nos gargalos referentes desenvolvimento da pecuária nacional, temos a dificuldade de acesso aos conhecimentos técnicos por parte dos pecuaristas, visto que 78% dos estabelecimentos rurais declararam não ter tido nenhum tipo de orientação técnica e 13% declarou ter tido uma orientação técnica ocasional (IPEA 2017). Dito ponto pode ser considerado nevrálgico à perda de competitividade produtiva e reconhecido como indutor do avanço do desmatamento ilegal em áreas rurais.
No que tange a agenda delicada que faz alusão entre a pecuária e o desmatamento, nos últimos anos muitas organizações da sociedade civil têm se debruçado sobre esse tema. Por meio do apoio a iniciativas de trabalho conjunto com atores da cadeia da carne brasileira, a The Nature Conservancy tem desenvolvido atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural e rastreabilidade da carne bovina nos estados do Mato Grosso e Pará e novos ensaios na região da Mantiqueira – agenda considerada fundamental à mudança do arquétipo que correlaciona a pecuária ao desmatamento e que olvida daqueles pecuaristas comprometidos com a sustentabilidade.
Como brasileiro entusiasta da pecuária sustentável existente em nosso país, entendo que num cenário em constantes mudanças socioeconômicas e políticas, de incertezas quanto a clareza de informações disponíveis à população, onde o dualismo inequívoco impera, o produtor rural não deixa de assumir o papel de protagonista no suprimento de alimentos, fibras e combustíveis para a sociedade, seja qual for sua visão de mundo e inquietações. Também, entendo como imprescindível valorizar e dar voz as mulheres pecuaristas e aos homens pecuaristas empenhados na promoção e na adoção de boas práticas agropecuárias e ambientais.
Percebo como profissional que seja indispensável e de boa-fé e lisura, comunicar com clareza os caminhos adotados pelos produtores rurais junto a grande audiência, tanto no território nacional quanto estrangeiro, dando ênfase ao valor crucial e insubstituível desses trabalhadores e trabalhadoras no dia-dia da população mundial, visto sua essencialidade.
Assim, ficam claras as potenciais oportunidades da promoção da pecuária sustentável num Brasil que busca ser inovador e coeso. A capacidade de promover maior eficiência no uso dos recursos produtivos e ambientais, iminentemente faz da pecuária brasileira e de seu conjunto de práticas agropecuárias e ambientais aplicáveis, uma alternativa sólida na promoção da segurança alimentar e na reconciliação entre produção de alimentos, fibras e combustíveis e a preservação dos recursos naturais.
Rafael Bonatto é especialista em Pecuária Sustentável da The Nature Conservancy (TNC), organização associada ao GTPS.
Artigo publicado originalmente na edição 186 da revista Feed&Food.