O conceito de produção sustentável não é uma novidade para os profissionais do agronegócio. O rápido aumento da população mundial tem exigido um crescimento sem precedentes na produção agropecuária, particularmente em relação aos alimentos de origem animal. Para atender a essa demanda, os profissionais da área entendem que grande parte do aumento da produtividade deve vir de ganhos na eficiência produtiva, focando em três pontos principais: rentabilidade, bem-estar animal e bom uso dos recursos naturais. Nesse cenário, a genética tem exercido papel de destaque como ferramenta capaz de impactar todos esses fatores.
Um dos principais fatores que influenciam a lucratividade da produção de leite e carne é a alimentação do rebanho, que pode chegar até três quartos dos custos de produção. A seleção genética para a eficiência alimentar tem o potencial de aumentar a sustentabilidade econômica do sistema de produção e, simultaneamente, de reduzir o impacto ambiental da atividade. Com o advento da seleção genômica, é possível selecionar animais jovens com maior acurácia, acelerando o progresso genético, inclusive para eficiência alimentar. Além disso, há evidências de que animais mais eficientes na utilização do alimento emitem menor metano entérico (CH4) g/dia produzido na digestão dos ruminantes.
A mitigação da emissão de gases de efeito estufa, tais como o metano entérico, tornou-se uma importante área de atenção em ruminantes devido a evidências que atribuem à pecuária 10-12% e 5% do total das emissões antropogênicas de CO2 e CH4, respectivamente. Potencialmente, a seleção direta de animais que emitem menos metano é a abordagem mais sustentável para reduzir o impacto climático.
Além disso, estudos têm demonstrado que a quantidade de emissões de metano do rúmen bovino é amplamente determinada, entre outros fatores, pela composição de sua microbiota ruminal e genoma do animal. Portanto o genoma do animal e da microbioma ruminal podem ser direcionados independentemente, através da criação de vacas com baixa emissão de metano e, paralelamente, investigando-se possíveis estratégias que visem mudanças no microbioma ruminal para reduzir as emissões de CH4.
Estratégias de melhoramento que consideram características de saúde têm o potencial de melhorar o bem-estar animal e a eficácia geral das operações leiteiras. A ocorrência de eventos de doença impacta negativamente a lucratividade do rebanho devido a aumento de descarte, despesas veterinárias e mão de obra, assim como a perdas da receita pela diminuição da venda de leite. Existem vários índices de seleção econômica comercialmente disponível, um deles é o Dairy Wellness Profit (DWP$), que inclui, entre outras, características de produção, fertilidade, longevidade e qualidade do leite bem como características de bem-estar da vaca e dos bezerros. Pesquisas recentes têm demonstrado que a seleção genética para DWP$, quando combinada com boas práticas de manejo, tem sido eficaz em aumentar a rentabilidade do sistema de produção de leite, além de contribuir para o bem-estar animal e a redução do uso de medicamentos e antibióticos.
Assim, a utilização da informação do DNA do animal tem potencial para impactar diretamente a sustentabilidade e rentabilidade na produção animal, seja pelo aumento da eficiência na utilização dos recursos, pela diminuição de gases de efeito estufa, pela redução do uso de medicamentos. Dessa forma, a seleção genética exerce protagonismo no aumento de eficiência, lucratividade e sustentabilidade.
Rafael Silva é Pesquisador Principal de Precision Animal Health Technical Services e Gustavo Gonçalves é Coordenador de Serviços Técnicos de Genética, ambos da Zoetis, organização associada ao GTPS.
Artigo publicado originalmente na edição 185 da revista Feed&Food.