A pecuária brasileira passa por uma transformação, está diante da oportunidade de elevar sua contribuição no combate às mudanças climáticas e na redução das emissões de gases do efeito estufa. Para tanto, cada vez mais pecuaristas devem aderir a práticas sustentáveis nas fazendas de produção de leite e gado de corte, mas por onde começar? E a resposta está no solo.
O tema foi debatido no dia 06 de novembro durante o evento online “Diálogo Inclusivo – Sustentabilidade na Pecuária: como produzir mais e melhor frente às novas exigências do mercado internacional”, promovido pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) e a Fundação Solidaridad.
“Se você quer mudar, comece pelo seu solo. Procure técnicos que possam te ajudar a dar um passo de cada vez, mas na sua melhor área, que é a que vai te dar o melhor retorno”, sugeriu Patrícia Perondi Anchão Oliveira, supervisora pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, aos produtores rurais.
Durante o evento, ela explicou que acertar as condições de manejo de solo da fazenda melhora as pastagens e, consequentemente, a dieta do animal – principalmente nos casos da pecuária extensiva, onde o gado se alimenta basicamente de pasto.
“Isso já é suficiente para mudar, inclusive, a qualidade da carcaça bovina e o rendimento da carne”, acrescentou.
Especificamente na pecuária de corte, a Embrapa Pecuária Sudeste tem estudos que indicam que o melhoramento do solo é capaz de dobrar o ganho de peso do animal, reduzir as emissões de gases e aumentar o sequestro de carbono.
O produtor rural e gestor da Pecuária WFB, Wander Bastos, admite que não é uma tarefa fácil convencer alguns pecuaristas a mudarem seus sistemas de produção, visto que toda mudança requer investimento e alterações na cultura adotada na atividade. Para ele, uma forma de aumentar a escala das boas práticas é com o auxílio de programas que insiram o produtor rural.
“E também acredito que a virada de chave vai ser a conservação do solo”, disse Bastos. “O pasto degradado não neutraliza nada de carbono e não armazena água e o pasto bem manejado é o contrário, neutraliza carbono e traz água para o lençol freático”, completou.
Mas como consertar esse pasto? Algumas sugestões dadas pelo produtor da WFB são: calagem, adubação química, adubação orgânica, fertirrigação, entre outras.
Além disso, é também indicado adotar práticas de controle zootécnico na cadeia, desde o peso ao nascimento, peso à desmama, idade à puberdade, até o intervalo entre parto das fêmeas.
Na agenda ambiental, é possível atuar dentro das propriedades rurais com proteção das nascentes, matas ciliares, manutenção de reservas legais e tratamento de dejetos.
Patrícia ressalta que os pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste estão há mais de dez anos focados em alternativas para o setor que ajudem a combater as mudanças climáticas. Segundo ela, aliada à eficiência zootécnica, outra forma de mitigação de gases é a adoção de sistemas consorciados.
“Introduzimos leguminosas junto à produção pecuária. Temos casos de sucesso com o feijão guandu e o amendoim forrageiro, por exemplo”, contou.
Mais um caminho, que está entre os mais divulgados, é o sistema integrado de produção, com lavoura e pecuária ou lavoura, pecuária e floresta.
A gerente executiva da Mesa Brasileira, Michelle Borges, destacou que a entidade é um espaço aberto para dialogar sobre estas iniciativas e encontrar as oportunidades para a pecuária brasileira.
“Precisamos olhar, no sentido de cadeia, em como dar escala a essas ações, levar o Brasil ao papel de protagonista a fazer com que essa pecuária sustentável seja aliada do clima e da segurança alimentar”, enfatizou.
Assista abaixo ao diálogo inclusivo na íntegra.







