O Brasil é uma potência mundial no segmento de carne bovina, liderando o ranking de países exportadores. De janeiro a julho de 2022 foram 1,064 milhão de toneladas e US$ 7,409 bilhões em receita, respectivamente 17,7% e 45,5% a mais sobre o mesmo período de 2021, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Chegar a esses números exige não apenas esforço dos produtores, mas muitas vezes práticas que são condenáveis do ponto de vista da sustentabilidade da cadeia produtiva. Embora parte dos questionamentos a esse respeito parta de nações concorrentes, é praticamente impossível dissociar o avanço da pecuária ao desmatamento. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), no ano passado a floresta amazônica perdeu 10.362 km2 de mata nativa, 29% a mais do que em 2020. E em muitas das áreas onde antes havia árvores, hoje há pasto.
A pecuária profissional e sustentável pode se descolar dessa imagem de vilã se assumir valores como a transparência frente ao mercado global. Desde que não fique apenas no discurso, claro. Essa tem sido uma das prioridades do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), conforme afirmou o vice-presidente da instituição, João Schimansky Netto, que está há pouco mais de um mês no cargo: “O maior desafio é despertar essa consciência de que é preciso mostrar o melhor da pecuária sustentável com a mesma mensagem”.
O executivo entende bem essa relação, pois também é o responsável pela compra de carne bovina da empresa sueca Norvida na América do Sul, sobretudo no Brasil. Segundo Netto, além dos fatores relacionados à qualidade, os clientes europeus fazem questão de saber como a carne foi produzida. Para ele, falta um instrumento oficial que comprove a origem de um bezerro e por onde esse animal andou. “Isso é o que a Europa cobra e o setor está trabalhando para mostrar. Qualidade sanitária a gente já tem, a bola da vez é a questão do desmatamento”, disse.
Quanto mais alinhado estiver o setor, maiores são as chances de avançar nesse campo. A pecuária sustentável é baseada em bem-estar animal, conservação do solo e da água, melhor aproveitamento de insumos e mitigação dos gases de efeito estufa. Adotar tais práticas naturalmente apresenta redução de custos, elevação de margens de lucratividade e pode conquistar mais mercados, o que já é um ganho bem significativo. Além disso, permite aos produtores receber serviços ambientais e entrar no mercado de créditos de carbono. Assim, todos ganham, especialmente o planeta.
Foto: Tony Oliveira/CNA