Negócio bom que faz bem, esse é o slogan que melhor consolida as diferentes abordagens da sustentabilidade agropecuária. O negócio, para ser bom, deve monetizar os ativos em níveis competitivos ao mercado. Os dois principais ativos do agronegócio são a terra e o rebanho, sendo o primeiro, em média, oito vezes mais valioso.
O papel econômico da propriedade é superar 4% ao ano de rentabilidade sobre o patrimônio terra. Aprendemos ao longo dos mais de vinte anos monitorando fazendas que esse nível de resultado apenas ocorre quando a atividade faz bem ao máximo de pessoas e recursos envolvidos. Utilizamos uma ferramenta de gestão chamada matriz de benefícios prioritários, onde documentamos para “quem” a propriedade deve gerar valor. Registramos desde respostas simplórias como: “eu sou o dono, deve gerar valor para mim”, até visões muito mais amplas, abordando que o papel da fazenda é gerar valor para os funcionários, animais, região, solo, setor agropecuário e planeta. São nestes casos que os melhores resultados aparecem.
Nunca consegui compreender o paradoxo produtividade x sustentabilidade quando tratamos de uma atividade agropecuária. Ele pode fazer sentido nas atividades industriais onde alguns processos economicamente melhores utilizam recursos e processos de impacto negativo ao planeta. No agronegócio a produtividade explica mais de 60% dos resultados econômicos, o restante se relaciona ao custo dos insumos e valor de venda. Na atividade pecuária, as fazendas de melhor resultado econômico produziram 41% mais quando comparada a média. Na agricultura este número foi de 33% e 42% para soja e milho, respectivamente.
Fica claro que a produtividade é determinante à rentabilidade, mas como tudo isso se relaciona com a sustentabilidade? Devemos resgatar que produtividade é uma relação entre o quanto se produz e os recursos necessários para tal. Esses recursos se referem a insumos, tempo, trabalho, área e outros. A ONU destacou que desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo atender as necessidades das futuras gerações, ou seja, é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. De posse das duas definições, a de produtividade e a de sustentabilidade, podemos olhar como ambas se potencializam no agronegócio.
Tempo é um dos elementos chaves no conceito de produtividade. Na pecuária existem animais que são abatidos aos 20 meses de idade ou menos enquanto vivemos uma realidade que supera 36 meses de idade ao abate. Quanto mais tempo, maior o período de emissão do metano, maior o consumo de água e demais recursos. De forma direta, podemos relacionar a produtividade com a sustentabilidade em relação a esses parâmetros. Apesar desta obvia abordagem, destaco que esse não é ponto central da relação entre a produtividade e a sustentabilidade.
O elemento central é a VIDA NO SOLO. Isso mesmo, VIDA. Sistemas agropecuários com maior teor de matéria orgânica e microrganismos apresentam maior potencial de produtividade. São solos que, devido a maior capacidade de retenção de água, fixação biológica de nutrientes e disponibilidade mineral, multiplicam a capacidade de crescimento das plantas ampliando a produtividade de grãos e de carne. Tudo isso ocorre ao mesmo momento que removem carbono da atmosfera. Em suma, no agronegócio a sustentabilidade é um pré-requisito para a produtividade.
Antonio Chaker é consultor sênior e coordenador do Instituto Inttegra Métricas Agropecuárias, organização associada ao GTPS.
Artigo publicado originalmente na edição 187 da revista Feed&Food.