Realizamos desde 2012 no Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade que representa as empresas que produzem couros no país, um levantamento periódico sobre os números do setor. São apurados dados como, por exemplo, o faturamento da indústria, exportações, principais segmentos compradores, investimentos, capacidade instalada e outros. O mais recente estudo foi finalizado em dezembro de 2022 – com coleta dos anos base 2020 ou 2021, a depender do indicador – e nos apresenta conteúdo muito interessante, sobre o qual podemos fazer ampla análise.
Apurou-se que há atualmente instaladas no Brasil 214 unidades produtivas de couro. Há poucas décadas, havia uma projeção de que o país tivesse mais de 700 empresas do gênero. Desde que o levantamento do CICB se iniciou, temos com precisão os números em queda de quantidade de empresas: em 2019 eram 223 plantas e, em 2018, 240. Ao mesmo tempo, não houve redução na produção de couros do Brasil, que, pelo contrário, avança como um dos maiores players mundiais do setor. O fenômeno que ocorre aqui diz respeito à demanda de alto investimento que uma empresa de curtume deve atender nos tempos atuais para contemplar exigências de legislação, clientela, tecnologia e sustentabilidade. Organizações menores, ou menos estruturadas, acabaram sendo incorporadas ou dissipadas dentro da realidade avassaladora do mercado em necessidade de aportes financeiros e gestão.
A preocupação ambiental e com a sustentabilidade, tão determinantes na configuração dos números do setor, têm um capítulo exclusivo no estudo realizado pelo CICB. O país – que ostenta a maior quantidade de certificações ambientais específicas da indústria de couros no mundo – mostra evolução e investimentos crescentes neste indicador. De acordo com a pesquisa, em 2021 77,8% das empresas lidavam com as questões ambientais contando com departamento próprio e também apoio de consultoria externa especializada; 16,6% exclusivamente com consultoria externa e 5,6% apenas com pessoal próprio. No levantamento anterior do CICB essas porcentagens eram, respectivamente, de 72% (ou seja, menor para o acompanhamento completo de pessoal interno e consultoria), 12% e 16%. É sempre válido lembrar que o Brasil possui a Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB), selo que atesta as melhores práticas do setor e conta com o apoio do Brazilian Leather, projeto realizado pelo CICB e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Na pauta sobre resíduos, o levantamento apontou que o controle diário de efluentes líquidos que são tratados pelos curtumes chega a 94,4%, e 100% deles têm programa de coleta seletiva de resíduos sólidos. Esse é um assunto sobre o qual os curtumes brasileiros têm uma dedicação muito reconhecida: há empresas do país que chegam a ter 0% de resíduos destinados a aterro sanitário, vendendo ou reaproveitando subprodutos como aparas de couro, sebo e outros. No Brasil, inclusive, uma organização dedica-se exclusivamente a transformar aparas de couros em todos os estágios (inclusive couros já curtidos) em adubo, que é utilizado em lavouras do país e exportado para o mercado internacional.
Estamos dedicados aos esforços de inteligência em informações de origem de matéria-prima. Em todas as nossas ações, o foco no aprimoramento contínuo também está presente e vemos isso com clareza nos dados do estudo.
Rogério Cunha é Inteligência Comercial do CICB, organização associada ao GTPS.
Artigo publicado originalmente em inglês na edição 189 da revista Feed&Food.