Para calcular de forma ponderada e sistêmica as emissões de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, a ciência usa a unidade ‘carbono equivalente’ (CO2eq), aplicado também no termo ‘pegada de carbono’. O metano, um desses gases, é emitido, sobretudo, pela fermentação entérica dos ruminantes, em especial dos bovinos de corte, que possibilita, de maneira singular, transformar a fibra ingerida pelo animal, através da pastagem, em proteína de alta qualidade e agregá-la na dieta alimentar humana por meio do consumo de carne. Nesse cenário, a fermentação entérica é responsável por 19% de todas as emissões de carbono equivalente do Brasil, segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, de toda a carne bovina produzida no país, 80% são procedentes do sistema de produção à pasto, seja ele integrado ou não. Esse sistema possui uma dinâmica constante de crescimento vegetativo da gramínea (brotação) e consumo (pastejo) pelo animal, que promove a captação do carbono presente na atmosfera. Esse carbono compõe o acúmulo de biomassa e é incorporado como matéria orgânica no solo, isso quer dizer que a pastagem é um potencial dreno de gases de efeito estufa, removendo carbono da atmosfera e fixando-o no solo, processo este que inativa o carbono para efeitos de aquecimento global.
Informações disponíveis no site da Embrapa mostram que enquanto um bovino emite, por ano, em torno de 1,5 mil kg de CO2eq, estudos têm mostrado que a pastagem de alta produtividade pode remover da atmosfera de 6 a 12 mil kg de CO2eq por hectare ao ano. Portanto, no balanço do sistema (emissões menos remoções) a carne bovina produzida exclusivamente a pasto tem o potencial de zerar o carbono emitido e até mesmo gerar saldo negativo de emissões para seu sistema de produção.
Esse potencial de remoção de carbono está diretamente ligado à qualidade das pastagens brasileiras e, sendo assim, a implementação de práticas de manejo e recuperação de pastagens degradadas são fundamentais para garantir a alta produtividade e o pleno funcionamento dessa dinâmica. Vale ressaltar que essas práticas também intensificam a produção pelo aumento da lotação por área e pelo ganho de peso médio dos animais, evitando a abertura de novas áreas para produção de alimentos.
Recentemente, foi publicado o protocolo e conceito ‘Carne Carbono Neutro’ pela Embrapa – Gado de Corte. Em linhas gerais, o protocolo prevê que os bovinos produzidos em sistemas integrados de pastagem e cultivo de eucalipto, neutralizam as emissões de CO2eq. Uma próxima etapa seria ajustar tais quantificações de carbono para sistemas exclusivamente a pasto, não integrados, os quais representam a maior parte da área destinada a produção pecuária no país.
Em suma, a carne bovina quando produzida em sistemas de alta produtividade tem grande potencial de neutralização das emissões de carbono, como tem mostrado os dados de pesquisas científicas. Tudo isso é um grande passo para dar suporte ao posicionamento da carne bovina brasileira frente ao mundo como sendo um alimento que garante uma adequada nutrição às pessoas e ao mesmo tempo contribui para a sustentabilidade ambiental do planeta.
Sergio Schuler ocupa a presidência da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (GTPS) e é vice-presidente de Negócios de Nutrição e Saúde Animal para Ruminantes na DSM.
Artigo publicado originalmente na edição 178 da Revista Feed&Food.