Por Clarice Couto
São Paulo, 23/08/2023 – A pecuária de corte e a leiteira no País passa a contar com a primeira certificação de redução de emissões de metano no rebanho, a Go Planet. Criado e gerido pela FairFood, empresa brasileira especializada em protocolos de certificação para a cadeia pecuária, o selo é concedido a companhias que comprovem o cumprimento de diversos requisitos no processo produtivo, relacionados principalmente à suplementação, na dieta dos animais, de algum aditivo que contribua para a redução da emissão de metano no plantel. A rastreabilidade do gado – neste caso, somente a partir da etapa de engorda e terminação – também é verificada no processo de certificação, explica a diretora de Sustentabilidade da FairFood, Bruna Silper, em entrevista ao Broadcast Agro.
As primeiras marcas que terão o selo estampado em seus produtos são a Carapreta, de carnes, e a de leites e derivados orgânicos NoCarbon, mas já há negociações com outras empresas. A expectativa é somar mais cinco empresas certificadas até o ano que vem. Está nos planos, além disso, levar a certificação a outros países da América Latina, segundo a executiva. “É uma grande oportunidade para os mega players de carne ou leite. Além da demanda do consumidor interno, eles têm uma grande demanda do mercado externo, de se mostrarem como empresas engajadas em sustentabilidade e tomarem ações efetivas de mitigação e combate às mudanças climáticas”, disse Silper.
O interesse em diminuir emissões de metano e comprovar tais reduções tem como pano de fundo o Compromisso Global do Metano, acordo voluntário assinado pelo Brasil e mais de cem países em 2021, durante a 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), em Glasgow, na Escócia. O compromisso é reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, a fim de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. No Brasil, a emissão de metano resultante da ruminação do gado é a principal fonte direta de gases de efeito estufa da agropecuária, representando 65% das emissões do setor.
O selo Go Planet estabelece uma série de parâmetros que precisam ser atendidos na fazenda e na administração dos aditivos redutores de emissão de metano para o gado. Por ora, apenas uma empresa de nutrição animal tem seu produto habilitado para a certificação, a holandesa dsm-firmenich. O aditivo em questão é adicionado à dieta dos bovinos e age no rúmen, suprimindo uma enzima que ativa a produção de metano. A solução, vendida em mais de 45 países, permite uma redução média de 30% na emissão entérica (intestinal) de metano do gado leiteiro e de 45% das emissões do gás em gado de corte. “Sempre que houver um novo produto disponível, poderá ser acrescentado (à certificação). Há outros aditivos em pesquisa no mercado”, comenta a executiva.
Silper conta que o Go Planet surgiu a partir da mobilização da Carapreta, NoCarbon e dsm-firmenich justamente para dar visibilidade a boas práticas já adotadas e que se refletem em redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE). “É a primeira certificação da redução de emissão de metano, até porque os aditivos chegaram no mercado há pouco tempo, estavam há muitos anos em estudo. Mas é preciso comprovar que ele está sendo usado de forma correta na fazenda e que tem a rastreabilidade da fazenda até o produto final”, argumenta Silper. A FairFood também é responsável por treinar e contratar certificadoras de terceira parte para visitar as fazendas e conferir o cumprimento dos protocolos.
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