Com o segundo maior efetivo no mundo, o rebanho bovino brasileiro cresceu 1,6% em 2023 e atingiu um novo recorde, de 238,6 milhões de cabeças. É o maior patamar da série histórica da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), iniciada em 1974. O ritmo de expansão anual, no entanto, é menor que o de 2022 e reflete o início de uma reversão no ciclo de criação de bovinos, de acordo com a supervisora da pesquisa, Mariana Oliveira.
“Nos últimos anos, a resposta do ciclo bovino tinha sido a retenção de fêmeas. Mas o comportamento está mudando e acreditamos que agora o ciclo vai passar por uma queda nos efetivos”, diz ela, ao comentar os resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A avaliação é de que ainda é possível perceber, em 2023, os efeitos da retenção dos anos anteriores, mas também já se observa a inversão do ciclo com o abate elevado de fêmeas. De acordo com a Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, também do IBGE, o ano de 2023 apresentou o segundo maior abate de bovinos já registrado, total de 34,1 milhões de cabeças, atrás apenas de 2013.
Um dos sinais desse movimento de reversão da tendência observada nos últimos anos, segundo Oliveira, é a queda no efetivo no Centro-Oeste (-0,6%) e no Sudeste (-2%), que ao lado do Norte (3,2%) são as três regiões com o maior número de bovinos no país.
As exportações de carne bovina in natura apresentaram avanço de 0,7% em volume em 2023, mas retração de 19,6% em faturamento em relação a 2022, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O principal destino da carne bovina foi a China, que adquiriu 59,6% de toda carne in natura exportada. Entretanto, o volume foi 3,4% menor quando comparado com 2022. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina e o maior exportador do mundo.
O ranking dos Estados por tamanho de efetivo bovino manteve seu perfil em 2023. A liderança foi do Mato Grosso, com 34 milhões de cabeças ou 14,2% do rebanho bovino nacional. A vice-liderança é do Pará, que com 25 milhões de cabeças tem participação de 10,5% no total do país. O terceiro lugar, por sua vez, é de Goiás, com 23,7 milhões de cabeças e uma fatia de 9,9%, seguido por seguido por Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Juntos, os cinco principais estados produtores de bovinos concentraram 52% do rebanho nacional em 2023.
No ranking dos municípios, São Felix do Xingu, no Pará, liderou o efetivo de rebanho bovino no país pelo 14º ano seguido em 2023, apesar da queda de 2,8% de seu efetivo frente a 2022. O município, com 84,2 mil quilômetros quadrados, tinha, ao fim de 2023, 2,5 milhões de cabeças de gado, ou 9,8% do efetivo paraense, 3,9% da Região Norte e 1% do total brasileiro.
Corumbá (Mato Grosso do Sul) continuou com o segundo maior rebanho, 2,2 milhões de animais, 8,5% a mais que em 2022. Porto Velho (Rondônia) manteve a terceira posição em 2023, com 1,8 milhão de bovinos.
Produção de leite
A pesquisa PPM) 2023 mostrou que a produção de leite de vaca no país somou 35,4 bilhões de litros no ano passado — 2,4% mais que em 2022. A produção de leite foi recorde e se deveu ao aumento de produtividade, uma vez que o número de vacas ordenhadas caiu para 15,7 milhões, o menor desde 1979.
O IBGE ressalta que, apesar do acréscimo na produção de leite, ainda é possível observar abandono da atividade, principalmente por produtores menores, devido à margem apertada.
“O arrendamento da terra para a produção de grãos, atividade em expansão em partes do país, tem sido uma opção, para prover um melhor retorno financeiro”, pondera o IBGE, que acrescenta que a importação foi outro fator de impacto no setor leiteiro em 2023. Foram importadas 199,2 mil toneladas de leite, 87% a mais que em 2022. Mesmo assim, o Brasil no ano passado foi o sexto maior produtor mundial de leite e teve o terceiro maior efetivo de vacas ordenhadas.
Essa “entrada maciça” do produto, aliada à fraca demanda interna, forçou a redução do preço interno do leite que passou de R$ 2,31 por litro, em 2022, para R$ 2,27 por litro em 2023, de acordo com a pesquisa.
Entre os Estados produtores, Minas Gerais manteve a liderança no país, com 9,4 bilhões de litros, o equivalente a 26,6% da produção nacional total e 80,6% da produção da Região Sudeste. Em seguida aparecem Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, nessa ordem, com 12,9%, 11,6% e 9,1% da produção nacional.
Pelo terceiro ano consecutivo, a Região Sul se manteve como líder na produção de leite, com 33,6% da produção nacional e 11,9 bilhões de litros de leite produzidos, alta de 1,8% em relação a 2022. A Região Sudeste veio em seguida, com 11,7 bilhões de litros.
O Nordeste segue com a terceira colocação em produção, mantendo um ritmo de crescimento desde 2017, quando ultrapassou o Centro-Oeste, atingindo a marca de 6,3 bilhões de litros em 2023, alta de 10,4% frente ao ano anterior.
Em termos de tamanho do rebanho, o IBGE frisou que, na última década, é possível observar a tendência de redução do número de cabeças de gado leiteiro no país. Em 2023, foi averiguado um efetivo de 15,7 milhões de vacas ordenhadas, 0,1% a menos que em 2022.
Com a saída do mercado de produtores que usam menos estrutura técnica e com o investimento em genética e estrutura de rebanho, a produtividade média nacional saiu de 1.525 litros por vaca por ano em 2014, para 2.259 litros por vaca por ano em 2023. Dentre os maiores Estados produtores, Minas Gerais apresentou o maior incremento em produtividade na última década, saindo de 1.613 litros/vaca/ano, em 2014, para 3.094 litros/vaca/ano, alta de 91,8%.
Minas também é o principal Estado em quantidade de animais ordenhados, com 3,0 milhões de vacas ordenhas (19,4% do total nacional). Em seguida vem Goiás, 1,6 milhão de vacas ordenhadas, responsável por 10,4% do total nacional. Na sequência aparecem Paraná e Rio Grande do Sul.
O valor de produção do leite contabilizado em 2023 foi de R$ 80,4 bilhões, alta de 0,4% frente a 2022. Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul lideraram dentre os valores de produção. Minas respondeu por 28,6% do total nacional, R$ 21,5 bilhões, queda de 6,0% em relação ao valor de produção de 2022. O Paraná alcançou R$ 11,4 bilhões, aumento de 4,3% frente ao ano anterior, respondendo por 14,2% do valor de produção nacional; e o Rio Grande do Sul, com valor de produção de R$ 9,1 bilhões, participou com 11,4%.
Entre os municípios, a maior produção nacional foi de Castro, no Paraná, com 454 milhões de litros — 6,4% a mais que em 2022 — e produção com valor de R$ 1,3 bilhão. Carambeí, também no Paraná, se manteve na segunda posição, com 269,9 milhões de litros, alta de 5,6% ante 2022, e R$ 755,7 milhões em valor de produção. O terceiro lugar ficou com Patos de Minas, com 211,1 milhões de litros e R$ 513 milhões em valor.
Fonte: Globo Rural