
A Agropecuária 3i é destaque entre as principais empresas brasileiras de produção intensiva de carne bovina. Com duas unidades próprias, a Fazenda Maravilha, no município de Colina (SP), e a Fazenda Maravilha do Araguaia, em Aruanã (GO), mais as áreas arrendadas, a companhia estima fechar 2025 com o abate de 134 mil animais. A maior parte desse gado vai para o exigente mercado chinês, via exportações do frigorífico. Estão em andamento ainda negociações diretas com outros compradores, inclusive no Oriente Médio, terra natal de seu fundador, o imigrante libanês Riad Ali Sammour. O avanço sobre as fronteiras do comércio internacional é consequência do comprometimento com a gestão e a qualidade da operação pecuária, baseada na terminação dos animais em confinamento e de forma intensiva a pasto. E das certificações conquistadas pela estruturação de um sistema sustentável, inclusive com economia circular, cujo reconhecimento vem abrindo portas no comércio global.
A história da Agropecuária 3i será destaque no segundo episódio da websérie Top Sustainable Livestock, iniciativa dedicada a demonstrar como a pecuária pode unir produtividade, rentabilidade e responsabilidade socioambiental. Por meio de exemplos concretos já aplicados no País, a série revela caminhos reais para transformar o setor em um modelo de produção sustentável, provando que preservar e prosperar podem caminhar lado a lado. Ela será veiculada no Canal Terraviva, do Grupo Bandeirantes, e é realizada por PLANT PROJECT em parceria com a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, com apoio dos projetos SAFe e ProTS, implementados pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), IDH Transforming Markets, MSD Saúde Animal e ApexBrasil.
A família Sammour entrou oficialmente na atividade do gado de corte em 2011, mas a jornada para chegar até aquele momento começou bem antes, em 1972, quando Riad Ali Sammour decidiu começar seu próprio negócio. Até então, era sócio de seu pai em uma cerealista. Seguiu no mesmo caminho, inicialmente comercializando arroz, até poder investir na sua cerealista, em Bebedouro, a cerca de 30 quilômetros de Colina. Essa estruturação foi fundamental para fincar os pés na agricultura também do lado de dentro da porteira.

Na década de 1980, o empresário decidiu apostar na citricultura, segmento em alta que já o atraía. “Foi possível crescer muito naquela época, pois a indústria, após realizar a estimativa de produção dos pomares, já antecipava o pagamento, e em dólar”, conta o sócio-diretor da Agropecuária 3i, Adam Sammour, o filho caçula de Riad Sammour. “Com o dinheiro na mão, meu pai tinha fluxo de caixa para trabalhar lá na frente.” Assim foi surgindo o Grupo Bandeirantes, guarda-chuva sob o qual está a Agropecuária 3i.
A garantia do capital de giro da produção de laranja alimentou a ampliação de terras, pela compra de pequenas propriedades, e permitiu a diversificação de atividades nos anos 1990. Por sugestão de um amigo, Riad Sammour investiu também no plantio de cana, abastecendo usinas da região. Esse trajeto avançou bem até 2011, quando o cancro cítrico se alastrou pelos laranjais paulistas e frustrou os planos da família. De 2010 para 2011, a presença da doença cresceu 125% em São Paulo, conforme dados do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), índice recorde nos 13 anos de acompanhamento do problema pela entidade.?
“Foi devastador. Tínhamos muitos pomares começando a produzir”, recorda Adam Sammour. “Resolvemos erradicar toda a plantação de laranja e ficar apenas com os canaviais.” O trágico episódio foi também um estímulo para a pecuária entrar de vez nos negócios da família. O confinamento iniciado em 2007, com apenas 70 cabeças, ganhou mais importância e outras dimensões. Após a eliminação dos pomares de laranja, foi construída a primeira linha da estrutura de confinamento que se vê hoje. O novo negócio ficou sob responsabilidade de Adam e de seus dois irmãos, Mohamad Sammour e Riad Ali Sammour Júnior. Vem da sociedade entre os três o nome Agropecuária 3i.

Hoje, a pecuária é o carro-chefe do grupo, e está baseada no confinamento, principalmente, e em áreas com recria e Terminação Intensiva a Pasto (TIP). A unidade de Colina tem capacidade estática para 22 mil cabeças, com três giros por ano. Em Aruanã, o confinamento abriga 12 mil animais, a área de TIP comporta mais 12 mil e ainda há o setor de recria a pasto para 6 mil cabeças. A empresa tem mais dois confinamentos arrendados, um em São Carlos (SP) e outro em Abadia de Goiás (GO), ambos com potencial para 5 mil animais. Fechando a estrutura pecuária, há duas áreas de arrendamento para TIP em Goiás, uma em Matrinchã e outra em Nova Crixás, também para 5 mil cabeças cada uma.
De 2007 até o momento, houve diversas transformações e muito aprimoramento para chegar à excelência. Segundo Adam Sammour, parte dessa evolução deve-se à contribuição de dois profissionais que incentivaram o crescimento mais acelerado. Um deles é Victor Campanelli, CEO do Grupo Campanelli, que ganhou notoriedade pelo uso de soluções tecnológicas de alto nível para comandar um dos maiores confinamentos de gado de corte de São Paulo. Não por acaso, houve a adoção de sistemas e plataformas de gestão bem avançados, além da contratação de consultorias especializadas para cada setor da empresa. Outro destacado é o do presidente da Friboi (JBS), Renato Costa. “Crescemos com uma base bem feita e com duas pessoas que me apoiaram muito”, afirma o executivo da Agropecuária 3i.
Tão crucial quanto a contribuição externa foi o comprometimento com a expansão do lado de dentro. Um dos responsáveis por conduzir essa jornada é o gerente de Pecuária, José Anchieta, que está no controle da rotina de produção desde sua chegada, em 2019, garantindo que todo o planejamento e toda a estratégia se concretizem na prática. “No ano anterior à minha entrada, o abate total foi de 9,5 mil animais. Agora, só a unidade de Colina tem capacidade estática de 22 mil cabeças, e deve chegar a 24 mil ainda em 2025”, diz Anchieta.

Para além da quantidade do gado, o avanço abrangeu a qualidade, condição alcançada a partir de vários fatores. A começar pela seleção dos animais, na grande maioria da raça Nelore ou anelorados. “Buscamos um bovino com padrão genético elevado, que além de apresentar um bom desempenho no confinamento ofereça uma carne que atenda os critérios de satisfação do consumidor final”, afirma Anchieta. Até 75% do rebanho sai de Goiás, o restante tem origem em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. Os animais chegam no confinamento pesando entre 12 e 14 arrobas e, após um período de 90 a 120 dias, alcançam peso final de até 21 arrobas.
O primor na seleção, no manejo e na terminação do gado garante condições para que a Agropecuária 3i participe de projetos mais rigorosos quanto à qualidade da carne. É o caso da linha premium 1953 da Friboi, baseada em animais precoces com padrão racial mais europeu. São novilhas F1, resultantes do cruzamento entre Nelore e Angus. Essa carne se diferencia pela textura e pelo sabor, são cortes com mais maciez e marmoreio. Por ano, cerca de 12 mil animais são destinados a esse projeto. Trata-se de uma parcela ainda pequena, se comparada ao todo e às pretensões da empresa para esse nicho de mercado.

Após o filtro para obter os melhores exemplares para qualquer área da produção, feito com base na rastreabilidade, é fundamental assegurar que o gado tenha o melhor atendimento quanto à alimentação e ao bem-estar. No caso da dieta, além do rigor na compra dos ingredientes, a empresa conta com o apoio de nutricionistas que elaboram uma alimentação balanceada, equilibrada. A nutrição adequada contribui ainda para a sustentabilidade da atividade, tanto por evitar desperdícios, quanto pelas condições dos dejetos, aproveitados na produção agrícola.
Os dejetos líquidos são levados por uma estrutura hidráulica até um conjunto de represas, ou caixas de decantação. Conforme esse material orgânico passa de uma caixa para outra, a parte mais densa vai ficando para trás. A partir da terceira caixa, esses resíduos já estão em condições de abastecer os três pivôs centrais que fazem a fertirrigação das lavouras de cana e milho. “Além de resolvermos um problema ambiental, que seria encontrar outro destino correto para esse resíduo, temos um produto muito rico, principalmente em fósforo, nitrogênio e potássio, os três principais nutrientes que a planta necessita para seu desenvolvimento”, explica Anchieta.
Uma das estruturas é exclusiva para receber a água limpa, armazenada para utilização no período das secas, por meio da irrigação. Cerca de 99% da água de chuva que cai no confinamento é direcionada para essa estrutura, que tem capacidade de armazenamento de 62 milhões de litros. Já os dejetos sólidos raspados na saída de cada lote do confinamento são levados para o pátio de compostagem. Após o processamento, que dura entre 30 e 40 dias, e já transformado em adubo, esse material também é aplicado nas lavouras, e com precisão de volume e até de nutrientes. Há rastreabilidade nessa compostagem. Cada leira desse insumo tem uma identificação, relacionada ao lote de animais que o originou, e é reservada para um talhão específico da cana ou de outra cultura.
A precisão no manejo dessa compostagem abrange o durante e o depois. A análise do solo onde está aquele determinado talhão revela se há deficiência de algum nutriente, indicando a necessidade de enriquecer o material orgânico. Esse equilíbrio é feito ainda no pátio de compostagem, para garantir o melhor resultado quando o adubo for aplicado no campo. Tal manejo tem proporcionado uma economia significativa no uso de fertilizantes químicos, além de beneficiar toda a parte biológica do solo. “Ocorre um melhor desenvolvimento de bactérias, fungos e protozoários que enriquecem a flora microbiota do terreno, o que favorece o desenvolvimento das plantas”, diz Anchieta.
A preocupação com a preservação dos recursos naturais e da qualidade das terras impactou não só as lavouras, mas alimentou também a relação com o mercado externo. “O pessoal vem de fora e fica impressionado, porque se tem uma coisa que a gente sabe fazer é cuidar bem”, afirma Adam. “O esterco do gado nutri as lavouras de cana, que retorna para os animais como silagem, bagaço e até palha. Virou um sistema de economia circular dentro de casa.” Todos esses processos fortalecem ainda mais a já favorável condição para exportação, como a habilitação de exportar para União Europeia e China. E a já avançada negociação para vender ao Oriente Médio.
Para a international trade da Agropecuária 3i, Ellen Pedroso, negociar com o mercado externo tem sido mais do que uma abertura de portas, é uma adequação interna de processos para atender tanto os requisitos exigidos pelos importadores, quanto tudo o que a empresa já buscava para conquistar as certificações. “Isso representa adequações de estrutura física e de processos internos”, diz a executiva. “Fechar essas negociações nos mostra que não se trata apenas de uma venda, mas de uma conexão e uma abertura para mostrar ao mundo que o Brasil tem capacidade de produzir com qualidade, seriedade e responsabilidade.”
Um novo grupo
A empresa fundada por Riad Ali Sammour como Grupo Bandeirantes, que depois deu origem à Agropecuária 3i, está mudando de nome. A família decidiu criar o Grupo RAS, que são as iniciais do fundador. Com isso, a parte agrícola passa a ser chamada de RAS Band, o complexo pecuário é o RAS 3i e toda a área de comércio internacional será administrada pela RAS Trade. “As margens estão cada vez mais apertadas na agropecuária, por isso resolvemos abrir o leque a partir de oportunidades que estão surgindo”, diz o sócio-diretor da RAS 3i, Adam Sammour, que prefere ainda manter sigilo sobre os novos negócios que podem surgir em breve.
Fonte: Plant Project – Edição 51
								







