Assumir compromissos sobre redução de emissão dos gases de efeito estufa foi parte da agenda de mais de 100 países, entre eles o Brasil, durante a Conferência do Clima (COP26), encerrada na segunda quinzena de novembro. No entanto, atingir a meta parece estar distante da realidade de muitos produtores brasileiros que dependem de assistência técnica pública.
O pacto do metano assinado em Glasgow prevê uma meta global de redução de 30% nas emissões de metano. O Brasil não precisa se comprometer a chegar a este nível sozinho. Mas com a pecuária pujante, que já possui tecnologias avançadas de manejuo sustentável, como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e recuperação de pastagens, o País é um potencial exemplo de mitigador de emissões. Mas isso precisa ser mais disseminado.
É o que afirma Antônio Marchiori, presidente da Associação Paulista de Assistência e Extensão Rural (Apaer). Para ele, o que deve mudar nas práticas agronômicas é a lógica de funcionamento: pensar menos em produtos e mais em processos. E levar conhecimento público, gratuito e de qualidade para os produtores rurais é uma tarefa que está atrasada.
Ele diz que a transferência de tecnologia para o campo através das entidades públicas, como as casas de agricultura, está à míngua, e isso contradiz a responsabilidade depositada sobre os produtores para diminuir a pegada de carbono e metano. “No modelo de governo federal e estadual, o orçamento foi enxugando tanto que você não tem gente para fazer essa extensão rural”, contesta.
“Um dos compromissos assinados na COP mostra a importância do manejo de solo, implementação de sistemas agroflorestais… Mas para adotar isso, é preciso do profissional da extensão rural”, defende Marchiori.
Além do corte nos orçamentos públicos, o presidente da Apaer adiciona um elemento: a indústria agroquímica. “Você tem atores que têm interesse em manter o sistema como ele está, porque ganham com isso. É essa agricultura baseada em uso de insumos, químicos e biológicos”, diz. A mudança, que ele chamada de agricultura baseada em processos, significa, dar preferência a um manejo tão sustentável em que seria possível até não precisar desses produtor.
Parece utopia, mas ele diz que é possível. Cita modelos de agricultura regenerativa e agrofloresta como exemplos práticos, baseados em processos como composição da paisagem, consórcio de cultivos e cuidado primoroso com o solo. Novamente, a assistência e extensão rural se fazem necessárias para levar as técnicas a uma ampla gama de produtores. Só que não é assim que acontece atualmente, lamenta Marchiori.
Fonte: Globo Rural