É consenso entre representantes dos mais diversos elos da cadeia de valor da pecuária que a rastreabilidade é um requisito indispensável para a atividade. Porém, devido a sua alta complexidade, é natural que durante o processo de construção de um entendimento comum sobre o tema surjam alguns gargalos.
Até mesmo conceituar terminologias utilizadas neste âmbito, como rastreabilidade e monitoramento, gera grande esforço e demanda um minucioso trabalho para se chegar a uma compreensão, nem sempre elementar.
O Grupo de Trabalho de Rastreabilidade do GTPS foi criado justamente com este propósito, identificar as necessidades e desafios para a rastreabilidade e o monitoramento em cada etapa da cadeia e propor alternativas com análise de possíveis impactos.
Na última reunião do mês de maio, três especialistas no assunto – Paulo Costa, coordenador dos Protocolos de Rastreabilidade da CNA; Pedro Burnier, gerente do Programa Pecuária na Amigos da Terra; e Aécio Flores, diretor da Planejar – juntaram-se aos demais integrantes do GT para ajudar a elucidar alguns conceitos recorrentes no setor.
Paulo Costa, que fez uma apresentação sobre os mecanismos definidos na Lei de Rastreabilidade Brasileira (Nº 12.097/2009), destacou que os instrumentos obrigatórios de rastreabilidade como a Guia de Trânsito Animal (GTA), a Nota Fiscal e os registros e controles que possibilitam segurança do alimento têm como objetivo a garantia sanitária dos rebanhos, inocuidade dos alimentos e saúde pública no contexto da indústria, sendo a rastreabilidade ligada ao produto, enquanto o monitoramento está associado ao local de produção dos animais ou de processamento de alimentos. Ele ressaltou que “para realizar o monitoramento é preciso ter a ferramenta adequada, porém, primeiro é necessário definir o local a ser monitorado. Diante disso, o monitoramento ambiental das fazendas deve ser estruturado com base nos dispositivos previstos no Código Florestal e não nas ferramentas de segurança sanitária dos rebanhos, saúde pública e inocuidade dos alimentos”, comentou o coordenador da CNA.
No entendimento de Pedro Burnier, com a rastreabilidade é possível conhecer as diferentes etapas do processo produtivo, inclusive tangibilizando a qualidade e a segurança do alimento para o consumidor. Sobre monitoramento, ele ressaltou que está mais ligado aos aspectos da origem, o controle das propriedades por onde o animal passou, sendo possível avaliar suas conformidades socioambientais. “Rastreabilidade e monitoramento são dois termos que se complementam e às vezes se confundem, por isso é preciso tratá-los com bastante atenção”, afirmou Pedro, que mencionou o trabalho do GTFI (Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos), que enxerga na integração do GTA com o CAR (Cadastro Ambiental Rural) uma forma eficiente de distinguir quem está atuando de forma irregular.
Há mais de 20 anos lidando com o processo de rastreabilidade no Brasil, Aécio Flores trouxe uma perspectiva diferente, apresentou números, cenários e desafios para o mercado brasileiro acerca da pecuária. Ele apontou a rastreabilidade como ferramenta que visa oferecer a capacidade de identificar matéria-prima, insumos e componentes de produtos ou serviços nas etapas de processo (origem, recepção, produção, transformação e distribuição). Sobre os conceitos, Aécio foi categórico “Rastreamento é quando identificamos o produto e sabemos o seu destino (no caso da carne, o frigorífico), o monitoramento possibilita conhecer tudo o que aconteceu durante o ciclo de vida do animal, ou seja, para monitorar é necessário rastrear”, finalizou.
Após as exposições dos três convidados, houve uma rodada de perguntas e respostas e debates entre os participantes do GT de Rastreabilidade, que é coordenado por Lisandro Inakake de Souza do Imaflora e facilitado por Luiza Bruscato, gerente executiva do GTPS.
“Depois de tudo que acompanhamos e discutimos hoje, fica o entendimento de que não há contrariedade entre os conceitos. O monitoramento é algo bem mais amplo e diz respeito às condições das propriedades de origem do animal e das etapas de transformação do produto, e a rastreabilidade, de certa forma, está inserida no monitoramento, pois está relacionada com a movimentação e sanidade animal e melhores práticas de produção e processamento em toda a cadeia de abastecimento. Para se fazer uso efetivo da rastreabilidade é necessário ter a capacidade de monitorar os atributos que se deseja”, concluiu Lisandro.
A reunião contou ainda com a participação de outros integrantes do Grupo de Trabalho de Rastreabilidade, representantes de organizações de cinco elos da cadeia da pecuária: ABA, AdT, Carrefour, CICB, CNA, GPA, Imaflora, IPAM, JBS, Marfrig, Minerva e NWF.